
A Reviravolta Ideológica de Nelsinho Trad: De Coordenador de Dilma a Crítico do PT
O cenário político sul-mato-grossense foi palco de um recente embate ideológico com a filiação do ex-deputado federal Fábio Trad ao Partido dos Trabalhadores (PT). Essa decisão gerou críticas por parte de seu irmão, o senador Nelsinho Trad (PSD), que, em 22 de agosto, afirmou que Fábio estaria “virando as costas” aos princípios da família, tradicionalmente associada ao campo da direita. Contudo, um olhar atento ao passado político do próprio senador revela uma trajetória que diverge significativamente de sua retórica atual.
A Contradição Política e um Passado Revisitado
Nelsinho Trad, hoje alinhado ao bolsonarismo em busca de apoio para sua reeleição ao Senado, tem propagado a narrativa de que a família Trad sempre atuou na direita. Essa afirmação, no entanto, contrasta com a história de seu pai, Nelson Trad, que se posicionou contra a ditadura militar, sofreu cassação de direitos políticos e chegou a ser preso, demonstrando um engajamento em causas que transcendiam um espectro ideológico restrito.
A memória política do senador, que em 22 de agosto declarou: “A gente sempre disputou eleição contra esse campo. Então ele está virando as costas a tudo isso”, parece omitir um período em que ele próprio manteve uma relação próxima e de apoio explícito ao Partido dos Trabalhadores. Essa seletividade na recordação de seu percurso político levanta questionamentos sobre a coerência de seus discursos atuais.
O Apoio Ardoroso a Dilma Rousseff em 2010
Coordenação de Campanha e Relação com Lula
Em 2010, quando exercia seu segundo mandato como prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad não apenas apoiou, mas foi o coordenador da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) em Mato Grosso do Sul. Naquele período, ele demonstrava orgulho de sua boa relação com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), um vínculo que se traduzia em parcerias e projetos para a capital sul-mato-grossense.
A cidade de Campo Grande estava, à época, impulsionada por diversas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma iniciativa do governo federal. A proximidade de Nelsinho com a cúpula petista era tamanha que ele chegou a viajar em avião presidencial com Lula de Brasília para Três Lagoas, evidenciando a força de sua aliança política.
Declarações e Defesa do Projeto Petista
O engajamento de Nelsinho Trad na campanha de Dilma era notório. No segundo turno das eleições, em 31 de outubro de 2010, ele fez uma declaração marcante ao votar: “Meu voto à Dilma é por amor a essa morena”, conforme amplamente registrado pela imprensa da época. Essa frase, carregada de simbolismo, sublinhava a intensidade de seu apoio.
Durante os atos de campanha, Nelsinho defendeu veementemente a candidata petista, inclusive em um evento no Rádio Clube Campo, em Campo Grande, que contou com a presença de Michel Temer, então candidato a vice-presidente pelo MDB. “Dilma representa a melhoria dos municípios. O projeto de proposta dela é o melhor para o Brasil”, argumentava o então prefeito, enfatizando os benefícios que a eleição de Dilma traria.
Ele expressava grande expectativa quanto à continuidade dos investimentos federais, especialmente os R$ 450 milhões do PAC destinados a Campo Grande. “Espero que nossa candidata vença para que ela honre os R$ 450 milhões que serão investidos aqui em Campo Grande. Tenho certeza que a vitória dela é a continuidade do governo Lula e será melhor para todos os municípios tanto de Mato Grosso do Sul quanto para todo o País”, declarava Nelsinho Trad, um defensor ardoroso da plataforma petista.
Naquele contexto, Nelsinho chegou a prever um cenário de “caos” caso o adversário, o ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB), fosse eleito. “Se isso acontecer será um retrocesso nos projetos que estão sendo executados e naqueles que deveriam ser no Brasil”, profetizava, reforçando a importância da vitória de Dilma para o progresso nacional e regional.
Mudanças de Rumo no Cenário Político Sul-Mato-Grossense
Atualmente, Nelsinho Trad se posiciona como um político que “nunca esteve no mesmo campo do PT”, uma postura que visa atrair o eleitorado bolsonarista, uma parcela significativa e influente. Essa mudança de discurso não é um fenômeno isolado na política local. O deputado federal Beto Pereira, por exemplo, que em 2010 também apoiou Dilma Rousseff como prefeito de Terenos e presidente da Assomasul (Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul), hoje cogita trocar o PSDB pelo PL de Jair Bolsonaro, buscando consolidar uma imagem de político de direita.
Outro caso notável é o do deputado federal Dr. Luiz Ovando (PP), que construiu sua carreira política no PPS (atual Cidadania), um partido com raízes no antigo Partido Comunista do Brasil. Atualmente, Ovando tem se destacado por discursos fervorosos contra o comunismo e por elogios aos Estados Unidos, demonstrando uma completa inversão de suas origens ideológicas.
A Nova Jornada de Fábio Trad no PT
Enquanto seu irmão revisita e reinterpreta seu passado político, Fábio Trad iniciou uma nova fase em sua carreira. Sua filiação oficial ao PT ocorreu neste sábado, em um evento marcado por grande celebração entre os petistas. O ex-deputado federal expressou seu objetivo de contribuir para a reeleição do presidente Lula e de se lançar como candidato a deputado federal.
Contudo, a cúpula do Partido dos Trabalhadores e seus filiados nutrem aspirações mais ambiciosas para Fábio Trad, sonhando com sua candidatura ao Governo do Estado, o que poderia reconfigurar o tabuleiro político de Mato Grosso do Sul nas próximas eleições.
Contexto adicional
A trajetória política de Nelsinho Trad, marcada por uma guinada ideológica do apoio ao PT em 2010 para a crítica atual, reflete um fenômeno comum na política brasileira: a adaptação de discursos e alianças em busca de viabilidade eleitoral. Essas mudanças, muitas vezes, são influenciadas por fatores como a polarização partidária, a busca por apoio de bases eleitorais específicas (como o bolsonarismo, no caso de Nelsinho) e as dinâmicas familiares dentro de clãs políticos tradicionais. A flexibilidade ideológica pode ser vista como uma estratégia para a sobrevivência e ascensão no cenário político, mas também pode gerar questionamentos sobre a coerência e os princípios dos representantes eleitos. Compreender essas movimentações é essencial para analisar as futuras composições partidárias e as estratégias para as próximas eleições em Mato Grosso do Sul e no Brasil.
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