
Empresário-chave da Operação Coffee Break Enfrenta Julgamento Após Nove Anos Foragido
O empresário Fábio Portela Machinsky, figura central na Operação Coffee Break e apontado como articulador de vantagens indevidas para vereadores, terá seu julgamento realizado no próximo dia 23 de setembro. A decisão foi proferida pelo juiz Ariovaldo Nantes Corrêa, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, após Machinsky reaparecer no processo de improbidade administrativa no início deste ano.
O Longo Período de Ausência e o Retorno ao Processo
Após um ano do início das investigações do Ministério Público Estadual (MPE), em 2016, Fábio Machinsky informou à Justiça sua mudança para a cidade de Luque, no Paraguai, alegando busca por novas oportunidades de negócios. Desde setembro daquele ano, a Justiça enfrentou dificuldades para notificá-lo em diversas etapas do processo, inclusive por edital, cujo último prazo expirou em dezembro do ano passado (2024).
Contudo, em despacho datado de 28 de fevereiro (2025), o juiz Ariovaldo Corrêa, atuando em substituição, confirmou que o réu, representado por seu advogado, se manifestou novamente nos autos para responder às acusações. A defesa do empresário apresentou uma nova manifestação, fundamentada nas recentes alterações da Lei de Improbidade Administrativa, o que levou o magistrado a agendar a audiência de instrução e julgamento.
As Acusações e o Papel de Intermediário
Conforme o relato do juiz Corrêa, a denúncia do MPE se baseia em interceptações telefônicas que revelaram o papel de Machinsky. Ele, na condição de servidor público comissionado, teria agido como intermediário de João Roberto Baird, oferecendo benefícios financeiros a vereadores. O objetivo era influenciar o julgamento favorável ao pedido de cassação do mandato do então prefeito, infringindo claramente os deveres funcionais de isenção, impessoalidade, moralidade e legalidade.
Diante das evidências, Fábio Machinsky é acusado de ato de improbidade que resultou em enriquecimento ilícito. A audiência de instrução e julgamento está marcada para o dia 23 de setembro, às 14h.
Pontos a Serem Decididos pelo Magistrado
Durante o julgamento, o juiz Ariovaldo Corrêa deverá analisar e decidir sobre os seguintes pontos:
- Se o ex-servidor comissionado no Instituto Municipal de Tecnologia da Informação (IMTI) ofereceu propina a vereadores para que votassem pela cassação do então prefeito Alcides Bernal (PP).
- Se o réu foi nomeado por Gilmar Olarte (sem partido) e, em decorrência disso, recebeu vantagens indevidas.
- Se o acusado realizou “depósitos vultuosos” em favor de terceiros no ano de 2015, período em que ainda exercia cargo público no IMTI, configurando uma movimentação financeira atípica em relação à sua condição de servidor.
Conexões e o Contexto da Operação Coffee Break
A denúncia do Ministério Público Estadual aponta que Fábio Machinsky, conhecido como “Fabão” nas gravações interceptadas, atuava como representante do empresário João Roberto Baird, proprietário da Itel Informática.
A ligação de Machinsky com o poder público municipal remonta a março de 2014, quando Gilmar Olarte assumiu a prefeitura. No mês seguinte, em 2 de abril, o Diário Oficial publicou a nomeação de Fábio para o cargo em comissão de gerente da Gerência de Administração e Finanças no IMTI.
A Operação Coffee Break já resultou em importantes desdobramentos judiciais. Em uma sentença histórica proferida em abril deste ano (2025), o mesmo juiz Ariovaldo Nantes Corrêa condenou 11 dos 24 denunciados por improbidade administrativa. Os condenados tiveram seus direitos políticos suspensos e foram sentenciados ao pagamento de R$ 1,9 milhão. Entre eles, figuram empresários influentes como João Amorim e João Roberto Baird – este último apelidado de “Bill Gates Pantaneiro” –, além de figuras políticas como o vereador Jamal Salem (Dr. Jamal, MDB), o ex-prefeito Gilmar Antunes Olarte (sem partido), o ex-deputado estadual Paulo Siufi (MDB), e os ex-vereadores Mário César, Edil Albuquerque e Airton Saraiva.
Entenda a Operação Coffee Break
A Operação Coffee Break foi deflagrada em 2015 para investigar um suposto esquema de compra de votos de vereadores em Campo Grande (MS) para cassar o mandato do então prefeito Alcides Bernal e empossar o vice, Gilmar Olarte. A investigação do Ministério Público Estadual e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) revelou uma complexa rede de influência e pagamentos indevidos, envolvendo empresários e políticos locais. O objetivo era alterar o cenário político da capital sul-mato-grossense, com sérias implicações para a administração pública e a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas.
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