Haddad Anuncia Criação de Delegacia Especializada para Combater o Crime Organizado Financeiro
O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez um anúncio significativo nesta quinta-feira (25 de setembro de 2025): a criação de uma nova delegacia especializada, dedicada exclusivamente ao combate aos crimes que afetam o sistema financeiro nacional. A revelação ocorreu no mesmo dia em que foi deflagrada a Operação Spare, uma importante fase da já conhecida Operação Carbono Oculto, que tem como foco desmantelar uma complexa organização criminosa. Este grupo é suspeito de realizar lavagem de dinheiro através de uma rede diversificada que inclui postos de combustíveis, empresas de tecnologia financeira (fintechs) e a exploração ilegal de jogos de azar.
Foco no Combate Estruturado ao Crime Financeiro
Haddad detalhou a missão da futura unidade policial, enfatizando seu papel estratégico. “Essa delegacia vai combater de forma estruturada o crime organizado, bem como a intersecção entre o crime organizado e a economia real”, afirmou o ministro. A iniciativa visa atacar as raízes das atividades criminosas que buscam legitimar recursos ilícitos, infiltrando-se em setores econômicos legítimos e distorcendo o mercado.
O ministro ressaltou que a Operação Spare representa a quarta ação de grande porte dentro desse escopo de combate ao crime financeiro, evidenciando uma continuidade e intensificação dos esforços. Ele destacou a crucial cooperação entre diversas instituições, mencionando a participação ativa do Ministério Público Federal, dos Ministérios Públicos estaduais e das Polícias Militares, o que demonstra uma abordagem integrada e multifacetada contra as organizações criminosas.
Em termos de tramitação administrativa, Haddad informou que a proposta formal para a criação da nova delegacia será encaminhada ao Ministério de Gestão e Inovação (MGI) nas próximas semanas. A estrutura da nova unidade será integrada ao organograma da Receita Federal, o que sublinha a importância da fiscalização tributária e financeira no desmantelamento de esquemas de lavagem de dinheiro e evasão fiscal.
Operação Spare: Desvendando um Esquema Bilionário
A deflagração da Operação Spare nesta quinta-feira (25) teve como ponto de partida as profundas suspeitas levantadas pela Receita Federal e outros órgãos de investigação sobre a movimentação financeira atípica e vultosa de diversas empresas. Essas companhias estariam supostamente envolvidas em um elaborado esquema de fraudes e lavagem de capitais.
Fernando Haddad revelou a magnitude da fraude, citando dados alarmantes. “Movimentavam R$ 4,5 bilhões e pagavam tributos sobre apenas 0,1% desse montante. E isso despertou a atenção da Receita”, declarou o ministro. A discrepância entre o volume financeiro transacionado e o valor irrisório de impostos pagos foi o principal sinal de alerta que levou à intensificação das investigações e, consequentemente, à operação.
Durante a Operação Spare, foram cumpridos um total de 25 mandados de busca e apreensão em diferentes localidades. O Coronel Valmor Racorti, comandante do Policiamento de Choque, responsável por parte da execução das ordens judiciais, detalhou os resultados imediatos das apreensões. Entre os itens confiscados, destacam-se quase R$ 1 milhão em dinheiro vivo, vinte aparelhos celulares, diversos computadores e uma arma de fogo, materiais que serão cruciais para o prosseguimento das investigações.
A Expansão da Atuação Criminosa para a Economia Formal
A complexidade e a abrangência das atividades criminosas foram sublinhadas pelo Procurador-Geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa. Ele observou uma mudança de paradigma na atuação das facções. “As facções criminosas passaram muito tempo priorizando o tráfico de entorpecentes, mas novas estruturas têm possibilitado que elas atuem em outras frentes, inclusive na economia formal e no ambiente político”, afirmou o procurador. Essa declaração reforça a necessidade de estratégias de combate que considerem a multifacetada natureza do crime organizado contemporâneo.
O Promotor de Justiça Silvio Loubeh, membro do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), forneceu detalhes sobre o início das investigações que culminaram na Operação Spare. Segundo Loubeh, o ponto de partida foi a suspeita levantada sobre a atuação de casas de jogos na região da Baixada Santista, especificamente no que tange ao uso indevido de máquinas de crédito e débito para movimentar valores.
A partir das suspeitas iniciais, a investigação se aprofundou, revelando uma rede muito mais ampla. “Investigando as empresas que recebiam esses recursos, identificamos dois postos de combustíveis envolvidos com lavagem de dinheiro”, explicou o promotor. Ele continuou: “A partir daí, identificamos um grupo criminoso responsável pelo branqueamento de capitais não só por meio dos dois postos, os envolvidos controlavam também outros estabelecimentos no setor de combustíveis, uma rede de motéis e empresas de fachada que movimentaram milhões de reais”. Essa declaração ilustra a sofisticação da organização, que utilizava diversos tipos de negócios para dissimular a origem de seus lucros ilícitos.
Propostas para Fortalecer a Fiscalização
Diante do cenário exposto, o Secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, defendeu a implementação de medidas adicionais para fortalecer o controle e a fiscalização. Ele especificamente apontou para a necessidade de um maior rigor na fiscalização da importação de petróleo e seus derivados, um setor que, como demonstrado pela operação, pode ser vulnerável à infiltração de atividades ilícitas.
Barreirinhas reiterou a urgência de uma resposta abrangente. “É uma série de avanços que precisaremos fazer para combater essa infiltração tão ampla”, afirmou, indicando que o combate ao crime organizado financeiro exige não apenas ações pontuais, mas uma revisão e aprimoramento contínuo dos mecanismos de controle e fiscalização em diversas frentes.
As investigações em curso revelam ainda a extensão da influência dessa organização criminosa, apontando para a existência de vínculos com empresas do setor hoteleiro. Mais grave ainda, há indícios da participação do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores e mais perigosas facções criminosas do país, o que eleva o nível de alerta e a complexidade da repressão a esses esquemas.
Mobilização de Forças na Operação
A Operação Spare mobilizou um contingente significativo de forças de segurança e órgãos de fiscalização. Um total de 110 policiais militares do Comando de Choque de São Paulo, juntamente com outras unidades especializadas, foram responsáveis pelo cumprimento das ordens judiciais. A ação contou também com a participação de agentes da Receita Federal e de integrantes da Procuradoria-Geral do Estado e da Secretaria da Fazenda, demonstrando a ampla coordenação interinstitucional necessária para o sucesso de operações dessa envergadura.
O Cenário do Crime Organizado Financeiro no Brasil
A atuação do crime organizado no Brasil tem se expandido significativamente para além das atividades tradicionais, como o tráfico de drogas, infiltrando-se cada vez mais na economia formal por meio de sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro. Operações como a Carbono Oculto, da qual a Operação Spare é um desdobramento, têm revelado a complexidade dessas redes, que utilizam empresas de fachada, postos de combustíveis, motéis e até fintechs para ‘branquear’ recursos ilícitos. Essa infiltração representa um desafio crescente para as autoridades, exigindo respostas especializadas e coordenação entre diferentes órgãos de segurança e fiscalização para proteger o sistema financeiro e a economia do país.
Publicar comentário