
Operação Carbono Oculto: Justiça de SP Revela Rede de 19 Postos de Combustíveis Suspeitos de Ligação com o PCC
Uma extensa investigação conduzida pela Justiça de São Paulo, no âmbito da Operação Carbono Oculto, revelou que pelo menos 19 postos de combustíveis foram nominalmente mencionados em decisões judiciais por supostas ligações com o Primeiro Comando do Capital (PCC). A megaoperação, deflagrada na quinta-feira, dia 28 de agosto de 2025, tem como foco principal a infiltração da maior facção criminosa do Brasil no estratégico setor de combustíveis e no mercado financeiro, com o objetivo de lavar o vasto capital gerado por atividades ilícitas.
A Ampla Rede de Lavagem de Dinheiro do PCC
Segundo informações da Receita Federal, o PCC teria estabelecido uma intrincada rede composta por mais de mil postos de combustíveis para viabilizar a lavagem de dinheiro para o crime organizado. O esquema consistia em receber grandes somas de dinheiro sujo, tanto em espécie quanto por meio de transações efetuadas via máquinas de cartão, para então repassar esses valores para contas bancárias controladas pela organização criminosa. Esta metodologia permitia a “limpeza” dos recursos, integrando-os ao sistema financeiro legal.
A Operação Carbono Oculto é considerada a maior ação já realizada contra o PCC na história, sublinhando a gravidade e a dimensão da infiltração da facção em setores econômicos vitais. A investigação não apenas mapeia a lavagem de dinheiro, mas também desvenda fraudes como a adulteração de combustíveis, que prejudica consumidores e o meio ambiente.
Os Postos e Seus Proprietários na Mira da Justiça
A relação dos 19 postos de combustíveis citados nas decisões judiciais, juntamente com seus respectivos endereços registrados na Receita Federal e as conexões com os investigados, oferece um panorama detalhado da estrutura do esquema. Entre os nomes que emergem na investigação, destacam-se:
Figuras Centrais e Seus Empreendimentos
- Mohamad Hussein Mourad: Apontado pela Justiça paulista como o líder do esquema, com fortes laços com o PCC. Ele é descrito como “fundamental para a expansão do grupo e para a blindagem patrimonial e lavagem de capitais”, exercendo um papel crucial na estruturação e proteção dos ativos da facção.
- Armando Hussein Ali Mourad: Irmão de Mohamad, é proprietário de sete dos postos investigados. Apesar das tentativas do g1 de contatar sua defesa, não houve manifestação até o momento da publicação.
Outros Envolvidos e Suas Participações
- Luciane Gonçalves Brene Motta de Souza e Alexandre Motta de Souza: Este casal é identificado como membro ativo da organização criminosa liderada por Mohamad Mourad. Eles são proprietários de dois postos e estão envolvidos em fraudes que incluem adulteração de combustíveis e manipulação de bombas.
- Renan Cepeda Gonçalves: Descrito como uma “pessoa chave na organização criminosa”, Gonçalves está ligado à Rede Boxter, um grupo sob investigação por sua participação na lavagem de dinheiro do PCC. Quatro postos são atribuídos a ele. Contudo, na Receita Federal, o proprietário desses estabelecimentos é Tharek Majide Bannout, que também é alvo da operação e possui, segundo a Justiça, ligação com o PCC.
- Gustavo Nascimento de Oliveira: Proprietário do Auto Posto Texas, localizado em Catanduva (SP), Oliveira é citado como um dos “laranjas” utilizados pelo grupo de Mohamad Hussein Mourad para ocultar a verdadeira propriedade dos bens. O g1 não obteve contato com sua defesa.
- Ricardo Romano: Vinculado ao Auto Posto S3 Juntas, em São Paulo (SP), Romano é apontado como “vinculado a atividades de lavagem de dinheiro e [que] possui conexões com o Primeiro Comando do Capital (PCC)”, conforme as decisões judiciais.
- José Carlos Gonçalves, “o Alemão”: Proprietário do Auto Posto S-10, Gonçalves é descrito pela Justiça com “ligações fartas com o PCC e é suspeito de financiar o tráfico e a lavagem de dinheiro”. Sua sócia na Receita Federal é a ACL Holding, igualmente citada na investigação.
- Pedro Furtado Gouveia Neto: Embora o Auto Posto Elite de Piracicaba seja apontado como pertencente a Armando Hussein Mourad, a Receita Federal indica Pedro Furtado Gouveia Neto como seu proprietário. Gouveia Neto é alvo da operação e também possui o Auto Posto Moska.
Fraudes Específicas e o Auto Posto Bixiga
Um dos aspectos mais alarmantes da investigação é a descoberta de fraudes específicas, como a adulteração de combustíveis. O Auto Posto Bixiga, situado em São Paulo (SP), é explicitamente citado como um dos destinos para o metanol, uma substância utilizada na adulteração de combustíveis. Essa prática não apenas lesa os consumidores, que pagam por um produto de qualidade inferior, mas também pode causar danos aos veículos e ao meio ambiente.
Situação Atual dos Estabelecimentos
Na tarde da quinta-feira, 28 de agosto de 2025, data da operação, ao menos quatro dos postos mencionados na investigação ainda estavam em funcionamento. São eles: o Auto Posto Texas, em Sumaré (SP); o Auto Posto Elite de Piracicaba, na cidade homônima; e o Auto Posto Yucatan, em Arujá (SP). Em contraste, o Auto Posto Bixiga, localizado na região central de São Paulo, encontrava-se fechado, com tapumes.
Questionada pelo g1 sobre o motivo de os postos citados na investigação permanecerem ativos, a Receita Federal optou por não emitir comentários, alegando que não se manifesta sobre investigações em andamento.
A equipe do g1 tentou contato com todos os postos mencionados na reportagem, utilizando os dados disponíveis na Receita Federal, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. Da mesma forma, as defesas de Gustavo Nascimento de Oliveira, Renan Cepeda Gonçalves, Armando Hussein Ali Mourad, Ricardo Romano, Antônio Hélio, Carlos Antônio, Luciane Gonçalves Brene Motta de Souza, Alexandre Motta de Souza e Pedro Furtado Gouveia Neto não se manifestaram. Não foi possível contatar a defesa de José Carlos Gonçalves.
Contexto adicional
O Primeiro Comando do Capital (PCC) é uma das maiores e mais organizadas facções criminosas do Brasil, com atuação que se estende para além das fronteiras nacionais. Sua principal fonte de renda é o tráfico de drogas, mas a lavagem de dinheiro em setores legítimos da economia, como o de combustíveis, é crucial para a sustentação e expansão de suas atividades. A adulteração de combustíveis, por sua vez, representa um risco direto aos consumidores, podendo causar danos aos veículos e à saúde, além de gerar perdas significativas de arrecadação para o Estado e concorrência desleal para postos que operam dentro da legalidade.


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